Monday, February 04, 2008

Lágrimas e chuva

Há alguns dias atrás estava passando de carro e vi uma moça chorando e comentei com a minha amiga: “Nossa, que trash. Chorando no meio da rua. Acho que nunca fiz isso!” Ram, mas que balela. Claro que eu já fiz isso. Não lembro como, onde, nem porque, mas certamente já fiz. Lágrimas fora de hora são assim mesmo, não pedem licença e já vão saindo. Não importa o lugar e a ocasião. Elas não fazem cerimônia.
Pode acontecer quando você está na faculdade, na farmácia, no mercado, no bar, na rodoviária. Ou às vezes você está lá sentada no ônibus (mas tem que ser sentada porque senão você vai ficar pensando que queria estar sentada mas não dá porque a porcaria do ônibus está cheio e que na real você precisa de um carro pra se locomover), olha pela janela e começa a pensar em tudo que está errado na sua vida e pronto: Quando você percebe elas já estão brotando em seus olhos. As benditas lágrimas. Aí você não sabe se dá vazão à emoção e se descabela de chorar ou se procura lencinhos na bolsa pra enxugá-las antes que todo mundo perceba que você não consegue disfarçar suas emoções. Mas quer saber? Foda-se o que os outros vão pensar, afinal é provável que você nunca mais veja aquelas pessoas na vida mesmo. Que diferença faz?
Sou a favor do direito de chorar em lugares públicos. Porque em casa sozinha não é a mesma coisa. Falta aquela adrenalina de ficar se escondendo dos outros pra ninguém perceber. Em casa você chora, grita, xinga, bate com a cabeça na parede, se descabela e não vai ter ninguém pra te olhar com uma cara desconfiada. Como se chorar fosse uma coisa realmente horrível. Se reprimir é que é terrível, isso sim. Chorar faz bem, como diria meu pai. Claro que não resolve porcaria nenhuma, mas e daí? É bom extravasar. Aliás, me admira que eu não encontre uma pessoa chorando a cada esquina porque vamos ser francos: O mundo não é um lugar tão feliz assim, longe disso.
Fiquei imaginando o que poderia ter acontecido de tão ruim com a moça do inicio da história. Eu devia ter saído do carro e ido abraçá-la, embora provavelmente ela ia achar que eu fugi de algum manicômio porque ninguém sai na rua abraçando desconhecidos. Mas não importa... Acho que ela estava precisando e da próxima vez que eu ver alguém numa situação parecida vou fazer isso.