Monday, December 11, 2006

Quebrando as regras do auto-controle

Tudo é uma questão de ter motivos pra sair de casa. E você tem o seu. Na verdade seu motivo pra sair de casa não é um bom motivo, é um ótimo motivo. É daquele que quando você bate os olhos não consegue mais parar de olhar, sente calafrios, falta de ar e as palavras faltam. E é por isso que você sai. Não sai esperando que aconteça algo surpreendente, mas no fundo acalenta um desejo que aconteça pelo menos alguma coisa. Chegando lá, você procura e não demora a achar o motivo de ter abandonado sua cama quente e confortável pra sair de casa numa noite fria e nada convidativa. Ele está lá parado e você finge que nem vê, porque te falaram que você precisa ter auto controle nessas horas. Mas você esquece disso 5 minutos depois e adota o "Tá na chuva é pra se molhar".
Você é paciente e sabe que precisa esperar o momento certo. Então espera. E espera mais um pouco e nada acontece. A oportunidade não aparece. Você não ouve aquele estalo e pensa: "Agora é a hora". Mas pelo menos você tem a vodka, a cerveja e os cigarros pra consolar já que o teu motivo não te dá a mínima. Você pensa em encher a cara, mas lembra bem da última vez que fez isso e o que aconteceu, então decide ir mais devagar. As horas vão passando e você vai sendo acometida por um leve desespero mas mesmo assim não deixa de lado suas pretensões e desejos. Você resolve dançar pra se distrair um pouco, mas não funciona. Seus pensamentos estão em outro lugar, não muito longe dali. Talvez você devesse dizer alguma coisa, o problema é que você já disse e também já fez tudo que podia. Não te resta outra alternativa então senão desistir. Pelo menos por essa noite. Chega a hora de se despedir. Vocês se abraçam e depois que se soltam, você pensa: "Droga, por que soltou tão rápido?" Aí ficam se olhando por um tempo. Um olhar que você não sabe explicar, mas que é diferente, hipnotizante, paralizante. Você sorri e diz: "Tchau" e vai embora. E não sabe nem explicar porque, mas aquele olhar valeu a noite. E enquanto espera o ônibus você lembra de uma das regras do auto controle: "Controle seu olhar de apaixonado, paixão é para fracos". Mas aí já é tarde demais pra lembrar disso e você continua sorrindo e pensa que ter saído de casa afinal, não foi tão ruim assim.