Friday, April 17, 2009

De boas intenções o inferno está cheio - Parte II

Entrei, então, no portal de ação voluntária e como não tinha nada mais perto da minha casa acabei escolhendo, num momento de pouca sensatez, a Santa Casa de Misericórdia. Na realidade, tenho pavor de hospitais e sangue, mas achei que era hora de superar meus traumas e crescer como pessoa. Tá, mentira. Como a instituição é mantida pela PUC achei que não encontraria problemas no processo de obtenção de certificado. E também pensei: “Antes a Santa Casa do que o Cajuru”. Acho que pior que o Hospital Cajuru (também sustentado pela PUC) só o Hospital do Trabalhador em termos de gente que chega toda fudida e machucada.
Depois disso, liguei para o hospital e agendei uma entrevista com a coordenadora de voluntariado do local e fui lá bela e formosa conversar com ela sobre como ações desse caráter são edificantes e gratificantes. Preenchi todo um cadastro para trabalhar com eles, mas nem perguntei nada sobre certificados porque achei que daria muito na cara que meus interesses por lá eram outros. E na semana seguinte começaria então a ser voluntária no hospital.
Questionei minha mãe qual seria a forma mais delicada de tocar nesse assunto de obtenção de certificado, afinal eu não queria causar a impressão errada. Eu estaria lá pra ajudar porque tenho um coração bondoso e não porque estou atrás de horas complementares, ou pelo menos era o que eu queria que parecesse. Minha mãe achou que eu NÃO deveria aparecer lá na segunda e trabalhar antes de ter CERTEZA que conseguiria o certificado. Mas eu não tive coragem pra ligar lá e fazer a pergunta que não queria calar e acabar com todo o meu disfarce. Ao invés disso, pensei em perguntar, assim como quem não quer nada, na segunda durante o “hospitour” que eu faria com a coordenadora.
Na segunda, fui lá cheia de boas intenções (ou nem tanto assim), fiz o tour pelo hospital, tomei DUAS vacinas (que ficaram latejando pra caralho depois), acompanhei um outro voluntário que levava pacientes do leito até a sala de exames para ir conhecendo melhor o lugar, ajudei a coordenadora com seus problemas no maldito Excel e então no final da tarde, achei que era a hora e disparei para ela: “Então... Estou pra me formar no meu curso e andei conversando com a minha coordenadora e ela comentou comigo que trabalho voluntário e afins contam como horas complementares. Queria saber se trabalhando aqui com vocês, consigo certificado e tal porque vai me ajudar nesse negócio de atividades complementares”.
Ela gentilmente me respondeu que o protocolo do hospital não permitia a emissão de certificados porque eles queriam evitar gente mal intencionada, pessoas que tinham segundas intenções e que na realidade, não queriam ajudar somente ao hospital. E eu querendo me enterrar viva, respondi completamente ruborizada: “É, verdade. Tá certo mesmo. Tá cheio de gente assim por aí. Imagina!”
Nem preciso dizer que no dia seguinte não fui ao hospital, não é? Nem no outro dia. Mas resolvi ligar pra dar satisfações porque a coordenadora era uma pessoa extremamente amável e fiquei com a consciência pesada de deixá-la na mão e me sentindo no dever de me explicar. Respirei fundo e liguei. Bati a real pra ela. Coisa que eu deveria ter feito desde o princípio, por sinal.
Eu sei, eu sei. Eu sou uma pessoa terrível e minha passagem de ida pro inferno já está garantida (e não só por causa disso). E eu deveria ter ouvido a minha mãe. Droga! Mas dos males, o menor... Aprendi a lição: Essa história de mentir pra se enturmar não leva a lugar nenhum. Hê. Fica a dica!