Sunday, August 16, 2009

Ensaio sobre a cegueira

A história foi mais ou menos assim: Há algum tempo atrás resolvemos fazer um churrasco (sem carne, claro) e convidamos os mais chegados. Até aí tudo bem. O detalhe é que uma dessas ilustres convidadas estava com conjuntivite, mas como somos pessoas praticamente sem frescuras e sem noção também, insistimos para que ela estivesse presente.
“Olha, o negócio é sério! Acho melhor vocês evitarem contato com ela.” Tentou alertar o pai da amiga quando foi deixá-la no evento. Óbvio que não ligamos pro perigo eminente e muito menos demos ouvidos ao sábio conselho paternal. “Ná, capaaaaaz! Não vamos pegar não.” Resultado? A moça disseminou a peste na festa e uma semana depois TODO MUNDO estava com conjuntivite. Coisa do demônio mesmo.
Doía horrores, coçava, ardia, lacrimejava. Uma maravilha! Além desses sintomas super agradáveis tive que ficar um mês sem usar lentes de contato, e pra quem não sabe eu sou míope. Muito míope. Praticamente preciso de uma bengala e um labrador para me conduzir pelas ruas quando não estou usando lentes.
Como eu não tinha óculos, emprestei do meu pai um par que era mais ou menos do meu grau. O problema é que como não era exatamente o grau que eu usava, acabava tornando-se incomodo ficar com o dito cujo por muito tempo, pois dava dor de cabeça e tontura. E pra ser bem franca, fiquei traumatizada com esses óculos porque a única vez que resolvi fazer uma aparição em público usando-os, acabei ganhando o apelido de Chiquinha. Depois dessa larguei MESMO os béts de usá-los na frente de outros seres humanos.
Mas voltando a saga da cegueira... Naquele mês minhas idas ao oftalmologista tornaram-se bastante freqüentes e como ninguém podia me acompanhar, eu ia sozinha mesmo, sem enxergar porra nenhuma direito. Então, numa bela tarde voltando do consultório fui pegar o Cristo Rei na Carlos de Carvalho. Estava lá toda bonitona esperando e quando vi uma coisa amarelinha se aproximando pensei: “Opa, já está no horário. Deve ser ele!” Fui até a beira da calçada e comecei a dar sinal, só que o ônibus passou batido. Nem pensei duas vezes: Comecei a xingar o motorista de vários nomes em alto e bom som.
Foi aí que olhei para a traseira do ônibus e vi alguma coisa escrita e também reparei melhor no formato dele. Nesse momento me dei conta que o ônibus não era um ônibus, o ônibus era um carro-forte!
Queria MORRER de vergonha porque havia várias pessoas no ponto, que provavelmente devem ter achado que eu tinha batido minha cabeça ou algo do gênero. Nem tive coragem de olhar para trás na verdade. Saí correndo para o próximo ponto porque juro que naquela hora, tudo que eu queria era me enterrar viva. Foi bizarro.
Depois de algum tempo uma amiga me ensinou uma simpatia pra trazer dinheiro quando você vê um carro-forte. Nunca testei. Minha experiência depois desse dia diz que ver um carro-forte além de não te render dinheiro nenhum pode te fazer passar vergonha. Maldita hora em que eu achei que não daria nada ficar perto da amiga que portava o vírus do satã...