Thursday, May 03, 2012

Ela partiu

O mês era novembro, a estação Outono, a locação Copacabana, Rio de Janeiro. Acordou no quarto do hotel com a sensação que algo estava errado, mas mesmo assim se banhou, vestiu uma camisa social azul e jeans, calçou seu All Star preto e desceu para tomar café da manhã. Em seguida, pegou um táxi e foi participar da coletiva de imprensa para a qual fora enviada para cobrir.
O evento transcorreu sem grandes acontecimentos, exceto pelo fato do wi-fi não ter funcionado e o 3G ter deixado a desejar. Colocando em miúdos: fazer uma cobertura da coletiva via Twitter e Facebook era praticamente um desafio à altura das peripécias do MacGyver, mas no final deu tudo certo.
Depois disso, por volta das 13:30 ela foi almoçar num restaurante em Ipanema junto com sua chefe, duas colegas de trabalho e claro, aquela sensação incômoda e angustiante que lhe acompanhava desde o momento que abriu os olhos pela manhã.
Enquanto esperava pela salada que havia pedido, sua chefe lhe perguntou como andava sua vida pessoal, ao passo que a moça confidenciou que passava dificuldades no namoro, mas que agora estava tudo se encaminhando. Mal ela sabia que tudo estava se encaminhando mesmo. Para o buraco. Sua chefe fez uma pergunta que ela recorda até hoje: "qual das duas é a mais madura no relacionamento?". Na hora ela não soube o que dizer, mas hoje entende que a resposta certa era "nenhuma das duas", infelizmente.

Conversavam sobre amenidades na mesa, ao passo que aquele pressentimento que algo ruim iria acontecer tomava conta de seu ser. Foi então, no exato momento em que a rádio começou a tocar "Ela Partiu" do Tim Maia, que a moça descobriu qual era a razão daquela aflição que não conseguia parar de sentir. "Ela vai terminar comigo", constatou.
Passou o resto da tarde com pensamentos tóxicos na cabeça. Imaginando como seria sua nova vida de solteira. Para quem ela ligaria para contar sobre seu dia. Quem ficaria com o cachorro recém adquirido na partilha de bens nesse "divórcio" eminente. Se choraria por dias a fio como tinha feito nos outros términos. Se voltaria a ser amada por alguém algum dia.
Já em pleno voo voltando para sua cidade, lembrou daquele lance do avião que leu num blog certa vez e dizia que para ter certeza se você está afim de alguém, basta passar por uma turbulência. Se nesse momento de pânico, você pensar na pessoa é porque gosta dela. Nisso ela se deu conta que não precisava de uma turbulência para saber se realmente amava aquela garota, pois ela amava. Mas o pensamento que afligia seu âmago era: "que diabos vou fazer quando chegar em Curitiba e levar um pé na bunda?". Nessas alturas do campeonato seu desespero e inquietação já eram visíveis.
Chegando em Curitiba, pegou um táxi para a casa de sua amada e ao descer do carro e olhar para o semblante dela, que lhe esperava na porta do prédio, a moça teve somente uma certeza: ELA DEFINITIVAMENTE VAI TERMINAR COMIGO! Bem, nem é preciso dizer que elas realmente romperam. Diferenças irreconciliáveis, dizem por aí. A ex pediu duas coisas antes de se despedir e ir embora: "não me procure mais e não escreva a meu respeito no seu blog".
O engraçado é que a moça nunca foi do tipo que gostava de parcelar as compras, então era muito estranho que tivesse insistido nessa relação cheia de vaivéns e levado um chute na bunda em 5 parcelas, mas enfim... Ainda meio aturdida, passou no posto de gasolina na esquina da casa de sua recém ex-namorada e comprou 3 garrafas de Sol Mexicana. Chegou em casa, acendeu um cigarro e foi tomada por uma sensação de tranquilidade com um pensamento idiota na cabeça: "ok, eu já sabia que isso iria acontecer mesmo, não foi nenhuma surpresa como da primeira vez."
Obviamente, no dia seguinte ela acordou se sentindo um lixo e nos dias subsequentes também. Os meses que se sucederam podem ser resumidos mais ou menos como aquela música do David Guetta: "party, and party and party and party.". Claro que tanto álcool, festas e tentativa de omissão e de ser superior aos seus verdadeiros sentimentos não deram muito certo. Passado um pouco mais de um mês do término a moça não resistiu e mandou uma mensagem contando que havia encontrado para comprar no shopping a cerveja que ela e sua ex-cônjuge procuraram por Curitiba inteira. Não recebeu nenhuma resposta.
E assim ela continuou com a sua vida. Veio o ano novo e aqueles sentimentos arrebatadores voltaram novamente e a moça mais uma vez não resistiu e enviou um "inocente" SMS em janeiro desejando um feliz ano novo e várias coisas boas em 2012 para sua ex. Mais uma vez foi ignorada.
Nesse ínterim, a moça startou novos projetos pessoais e voltou a ficar com uma garota que havia conhecido no final do ano. Claro que mais uma vez ela não pôde deixar de pensar: "agora vou ser feliz pra sempre de novo". Só que não. Em meados de fevereiro a moça assistiu a um filme e lembrou-se da sua ex e não deixou passar a oportunidade de atazaná-la. Enviou um torpedo dizendo que o tal filme havia feito ela se lembrar das duas. Não teve nenhum retorno novamente.
Obviamente esse novo romance da moça estava fadado ao fracasso desde o princípio, mas ela não quis acreditar até o inevitável acontecer mais uma vez. E o inevitável aconteceu na segunda quinzena de abril. Como julgava que não tinha mais nada a perder mesmo, ela tentou ligar para a casa da ex para ver se ela estava por lá, mas aparentemente o telefone havia sido desligado. Não tendo opção, tentou telefonar diretamente no celular da pessoa. Caiu na caixa postal. 

Desiludida da vida com seus insucessos saiu para encher a cara e tomou uma das decisões mais imbecis que já teve em toda a sua vida: resolveu aparecer de madrugada na casa da ex. Pensou: "o que pode ser mais agradável que uma visita super oportuna na calada da noite, de uma ex totalmente embriagada?". Bem, na verdade se ela tivesse pensando dessa forma, teria ido para casa ao invés de importunar a coitada de madrugada. Felizmente o que poderia ter terminado numa ordem de restrição, terminou com um "ela não mora mais aqui" por parte do porteiro do prédio.
A ex havia se mudado e trocado o número do celular. "Ela realmente foi embora", pensou. Voltou então para casa com um rabo invisível entre as pernas, colocou a música do Tim Maia, chorou até desidratar e fez uma promessa para ela mesma: vou ficar um mês sem beber depois dessa bad trip.